Em três pronunciamentos feitos em cadeia de rádio e televisão em horários diferentes, presidente eleito da Venezuela afirmou que vai usar ‘mão dura contra o fascismo’. Ele avisou que seu governo não reconhecerá governadores que o considerem ilegítimo – Capriles governa Miranda – e acusou os EUA, um dos poucos países que não reconheceram sua vitória – de financiar a oposição.
Caracas – O presidente recém-eleito da Venezuela, Nicolás Maduro, aumentou o tom e partiu para o ataque no debate político por todo o dia de hoje (16). Em três pronunciamentos feitos em cadeia de rádio e televisão em horários diferentes, Maduro afirmou que vai usar “mão dura contra o fascismo” e proibiu uma marcha chamada pelo candidato derrotado Henrique Capriles Radonski para esta quarta-feira (17). O chavista ainda avisou que seu governo não vai reconhecer governadores que o considerem ilegítimo. Capriles é governador do Estado de Miranda.
Maduro também acusou a embaixada norte-americana de estar financiando a oposição. O governo dos Estados Unidos é um dos únicos das Américas que aderiu à campanha da oposição de pedir a recontagem dos votos. Ele anunciou medidas de segurança para o sistema elétrico do país que, segundo ele, vem sofrendo inúmeras tentativas de sabotagem.
Na segunda-feira (15), Capriles pediu nas redes sociais que seus seguidores “descarregassem sua raiva” ante a proclamação do presidente Nicolás Maduro no Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e convocou um “panelaço” para as 20h da noite. Como resultados dos protestos desde ontem à noite, o governo afirma que ocorreram setes mortes perpetradas por ataques de pessoas ligadas à oposição.
“Agora estão planejando uma marcha ao centro de Caracas. Não vamos permitir. Vocês não vão para lá enchê-lo (o centro) de morte e sangre, não vou permitir que façam o que querem fazer. Vou usar a mão dura contra o fascismo e a intolerância, então digo, se querem me derrubar, venham para mim, aqui estou com o povo e uma Força Armada, seu burguês”, asseverou Maduro em uma inauguração de um centro de saúde.
Já a tarde, em um evento com trabalhadores da Petróleos da Venezuela (PDVSA), o presidente eleito acusou a embaixada dos Estados Unidos de financiar os atos de violência e alcunhou o seu opositor como o “novo Carmona”, referindo-se ao empresário Pedro Carmona, que liderou o golpe fracassado contra o presidente Hugo Chávez em abril de 2002.
Em sua terceira aparição, já inaugurando um hospital no Estado Aragua, a algumas horas de Caracas, Maduro disse não reconhecer Capriles como governador o chamou os chavistas a protestar em favor do governo. “Chamo a todo o povo chavista, nacionalista e patriota, para isolar os golpistas. Não venha agora a disfarçar-se de pacifista. Não confundam nossos anseios de paz com debilidade”, disse o presidente em franco ataque.
Capriles
Por sua vez, Capriles desistiu de realizar a marcha e acusou o governo de estar por detrás dos episódios de violência. “Amanhã não vamos nos mobilizar, peço aos meus seguidores que se recolham. Amanhã ninguém vai. Quem sair está ao lado da violência. O governo quer que haja mortos no país”, acusou em coletiva de imprensa.
O oposicionista sustentou que “informações de inteligência” vindas das Forças Armadas revelaram que o governo pretendia infiltrar pessoas na marcha desta quarta-feira (17). “O governo quer através da violência que não se fale do assunto pelo qual estejamos aqui”, disse, referindo-se a sua demanda de recontagem de 100% dos votos.
Na coletiva, Capriles apresentou denúncias de irregularidades ocorridas no pleito de 14 de abril. Segundo o opositor, 535 máquinas de votação estariam danificadas; testemunhas da oposição teriam sido retiradas de 283 centros de votação; haveria mais de 600 mil falecidos nas listas de votantes; em 1176 centros, Maduro teria tido mais votos do que Chávez; em 564 centros eleitores teriam sido acompanhados irregularmente até a urna; toldos vermelhos do partido de Maduro (PSUV) estariam irregularmente próximos a 421 centros; motoqueiros teriam amedrontado eleitores em 397 centros.
Capriles ainda apresentou supostas listas de votantes e ata de verificação cidadã de uma mesma mesa de votação, no estado de Trujillo, onde haveria 181 votos a mais na ata do que pessoas na lista. Em tom de denúncia, Capriles também afirmou que pessoas com mais de 100 anos votaram.
A despeito da grita da oposição, Maduro reafirmou que não há necessidade de recontagem dos votos, visto que o sistema eleitoral venezuelano já prevê uma auditoria de 54% das caixas onde os votos são depositados depois de fechadas as mesas. A maior parte dos países das Américas já reconheceu a vitória de Maduro, entre eles, Brasil, Argentina, Equador, México, Bolívia, Colômbia, Peru, Uruguai, Haiti, Cuba, Guatemala e Nicarágua.
Matéria de Jonatas Campos e Vinicius Mansur – ComunicaSul publicada pelo Portal Carta Maior