Londres – Até a metade de todo o alimento produzido no mundo acaba indo parar no lixo devido a métodos falhos de colheita, armazenamento e transporte, assim como de atitudes irresponsáveis de varejistas e consumidores, segundo relatório divulgado hoje (10) pelo Instituto de Engenheiros Mecânicos, com sede em Londres. “O mundo produz cerca de quatro bilhões de toneladas métricas de alimentos por ano, mas entre 1,2 bilhão e 2 bilhões de toneladas não são consumidos”, revela o estudo.
“Esse nível de desperdício é uma tragédia que não pode continuar se quisermos ter sucesso no desafio de atender de forma sustentável nossas futuras demandas de alimentos”, diz o documento.
Nos países desenvolvidos, como a Grã-Bretanha, métodos eficientes de agricultura, transporte e armazenamento indicam que a maior parte do desperdício ocorre pelo comportamento varejista e do consumidor.
Segundo o estudo, os varejistas produzem 1,6 milhão de toneladas de resíduos alimentares por ano porque rejeitam grupos de frutas e legumes comestíveis que não cumprem os critérios exatos de tamanho e aparência. “Trinta por cento do que é colhido do campo nunca realmente atinge o mercado, principalmente o supermercado, devido à triagem, seleção de qualidade e por não cumprir critérios puramente cosméticos”, afirma o documento.
Dos alimentos que chegam às prateleiras de supermercados, de 30% a 50% do que é comprado nos países desenvolvidos é jogado fora pelos consumidores, geralmente devido à má compreensão das datas de “melhor consumido antes” e “usar até”.
Uma data que diz “usar até” é colocada quando há um risco de saúde associado com o uso do alimento depois dessa data. Um “melhor consumido antes” fala mais sobre a qualidade, quando ela expira, não significa, necessariamente, que o alimento seja prejudicial, mas que pode perder parte do sabor e textura.
No entanto, muitos consumidores não sabem a diferença entre os rótulos e jogam no lixo alimentos antes que o prazo de validade expire.
Na Grã-Bretanha, cerca de US$ 16,3 bilhões em alimentos são jogados fora pelas residências todos os anos, e parte disso é apta para o consumo, segundo o estudo.
Já em países menos desenvolvidos, como os da África subsaariana ou os do Sudeste Asiático, o desperdício costuma ocorrer devido à ineficiência na colheita e no armazenamento.
Nos países do Sudeste Asiático, por exemplo, as perdas com o arroz podem ser de 37% a 80% da produção, totalizando cerca de 180 milhões de toneladas por ano, mostra o relatório.
A Organização das Nações Unidas (ONU) prevê que a população mundial atinja o pico de cerca de 9,5 bilhões de pessoas até 2075, significando que haverá 2,5 bilhões de pessoas a mais para alimentar.
O aumento populacional, junto com a melhoria da nutrição e a mudança de dietas, pressionará pelo aumento no fornecimento global de alimentos nas próximas décadas.
O aumento no preço dos alimentos e das commodities vai levar à necessidade de reduzir o desperdício, tornando a prática de descartar frutas e legumes comestíveis por razões cosméticas menos viáveis economicamente.
No entanto, os governos não deveriam esperar que o preço dos alimentos provoque uma ação sobre essa prática de desperdício, mas produzir políticas que mudem o comportamento do consumidor e convençam os varejistas a deixar de lado esse modo de agir, observam os pesquisadores.
Países que se desenvolvem rapidamente, como Brasil e China, vêm aprimorando a infraestrutura para transportar as colheitas, ganhar acesso aos mercados exportadores e melhorar as instalações de armazenamento, mas precisam evitar os erros cometidos pelas nações desenvolvidas e garantir que sejam eficientes e bem conservados.
Países mais pobres exigem investimentos significativos para melhorar sua infraestrutura. Por exemplo, a Etiópia está estudando desenvolver uma rede nacional de instalações para armazenamento de grãos que deve custar pelo menos US$ 1 bilhão. “Esse nível de investimento será necessário para diversas commodities e em vários países, e os esforços coordenados serão essenciais”, disse o relatório.
Matéria de Nina Chestney, da Reuters publicada na Rede Brasil Atual