A América Latina continua cumprindo com rigor seu destino de exportação de bem primários, sejam alimentares ou riquezas minerais. Os grandes números do agronegócio impressionam, seja pela colheita ou pelos dólares. No entanto, o mestre Eduardo Galeano, já na década de 70 explicava em seu magistral “As Veias Abertas da América Latina”, que os verdadeiros donos do negócio, as multinacionais, conseguiam impor preços mínimos para o que produziam aqui para maximizar os lucros nas vendas la fora. A diferença, bilhões e bilhões de dólares, não chegamos a ver, apesar da mídia tradicional (ou seja, seus empregados) festejarem os recordes. O esquema é, na verdade, muito simples: os grandes grupos controlam a compra e a venda, impondo os preços para quem produz. O mínimo que podemos fazer é continuar conscientizando as populações da importância de uma profunda reforma agrária que traga a produção às necessidades das populações em primeiro lugar.
Veja a matéria de Danilo Macedo, Repórter da Agência Brasil sobre a baixa de preços “deflação” ocorrida no ano passado. Nenhuma palavra sobre reforma agrária, agricultura familiar ou soberania.
Safra brasileira foi recorde em 2012, mas houve deflação nos preços dos alimentos exportados
Brasília – A crise internacional também deixou suas marcas no agronegócio brasileiro em 2012. Apesar da severa estiagem que atingiu estados do Sul e Nordeste do Brasil, o setor registrou safra recorde de 166,2 milhões de toneladas de grãos. Mesmo assim, seu PIB (Produto Interno Bruto) recuou na comparação com 2011, ficando em cerca de R$ 813 bilhões.
De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a austeridade fiscal adotada pela União Europeia, a redução no ritmo de crescimento da China e o enfraquecimento da economia americana contribuíram para a deflação dos preços das principais commodities exportadas pelo país.
Além disso, a crise levou a uma desaceleração da demanda de grandes compradores dos produtos agropecuários brasileiros, como Estados unidos e União Europeia. O setor também sofreu com embargos à carne nacional, principalmente por parte da Rússia, principal cliente, e Argentina, principal parceiro no Mercosul.
O maior ponto positivo do ano para os produtores rurais foi a aprovação do Novo Código Florestal, discutido por mais de dez anos no Congresso Nacional. Entidades representativas dos produtores rurais, como a CNA e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) dizem que a nova legislação traz segurança jurídica necessária ao setor e contribui para a regularização das propriedades.
Apesar das incertezas quanto à recuperação das economias mundiais, há perspectivas otimistas para 2013. A produção de grãos, que já foi recorde este ano, deve crescer ainda mais. De acordo com levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a colheita deve ultrapassar 180 milhões de toneladas, um crescimento de mais de 8%.
Em relação à demanda externa, o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, disse que vislumbra a suspensão do embargo russo imposto em junho de 2011 às exportações de carnes dos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e de Mato Grosso, além da abertura de novos mercados.
“Após anos de negociações, o ano de 2013 será o momento para a conclusão do processo negociador com o Japão e a Coreia”, disse, se referindo ao reconhecimento, por esses países, de Santa Catarina como livre de febre aftosa sem vacinação e, conseqüentemente, a permissão para que o estado possa exportar carne suína para eles.
O ministro garante que não faltarão recursos aos produtores – o Plano Agrícola e Pecuário 2012/2013 disponibilizou R$ 115,2 bilhões para financiamentos nesta safra – e que medidas estão sendo tomadas com foco na geração de empregos no campo e no aumento da renda com sustentabilidade. Entre elas, está o Projeto de Regionalização do Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento, com o objetivo de tornar o órgão mais ágil, eficiente e próximo dos produtores.
“Na regionalização, a ser implementada inicialmente nas regiões Sul e Nordeste – em razão de serem atingidas pela seca – a principal meta é identificar as dificuldades locais do setor para induzir o crescimento da produção agropecuária e florestal por meio de sistemas que gerem emprego e renda com sustentabilidade”, disse Mendes Ribeiro.