O primeiro-ministro do Mali, Cheik Modibo Diarra, anunciou a renúncia do seu governo nesta terça-feira poucas horas após ser preso por militares autores do golpe de Estado de 22 de março contra o presidente Amadou Toumani Touré.
A renúncia deixa o país na incerteza mais uma vez. O Mali enfrenta há quase um ano uma crise sem precedentes que provocou a divisão do país, onde se questiona a possibilidade de uma intervenção militar estrangeira para expulsar os islamitas vinculados à rede extremista Al-Qaeda.
“Eu, Cheik Modibo Diarra, renuncio junto a meu governo”, declarou Diarra num breve discurso transmitido pela rádio e televisão estatal de Mali (ORTM), sem explicar os motivos da saída.
O porta-voz da antiga junta militar do país, Bakary Mariko, afirmou que a renúncia forçada de Diarra não é um golpe de Estado e destacou que, nas próximas horas, o presidente do país, Dioncounda Traoré, nomeará um novo chefe de Governo.
“Não é um novo golpe de Estado”, disse Bakary Mariko ao canal “France 24”.
Mariko disse que Diarra priorizou a sua “agenda pessoal” ao invés dos deveres de chefe de Governo.
“O presidente da República substituirá o primeiro-ministro nas próximas horas”, completou.
O primeiro-ministro do Mali foi detido na madrugada desta terça na sua residência em Bamako por militares ligados ao capitão Amadou Haya Sanogo, líder do golpe de Estado deflagrado em março passado.
“O primeiro-ministro foi detido por quase 20 militares procedentes de Kati”, região militar próxima a Bamako e base dos golpistas, revelou um colaborador de Diarra. “Foi informado de que estava a ser preso por ordem do capitão Sanogo”.
Os militares “derrubaram a porta da residência do primeiro-ministro e o levaram de maneira brutal”, disse o colaborador, que pediu para não ser identificado.
Diarra pretendia viajar nesta segunda-feira a Paris para realizar exames médicos, mas foi informado de problemas com sua bagagem e decidiu não seguir para o aeroporto. O primeiro-ministro chegou a gravar uma breve mensagem à Nação, mas segundo a mesma fonte, os militares invadiram a TV estatal e apreenderam a gravação.
Diarra pronunciou-se diversas vezes para defender a intervenção de uma força militar internacional no norte do Mali, ocupado desde o final de junho por grupos islâmicos armados ligados à Al-Qaeda, uma intervenção rejeitada pelo capitão Sanogo.
Amadou Haya Sanogo, até então um militar desconhecido, depôs em 22 de março passado o regime do presidente Amadou Toumani Touré, precipitando a queda do norte do Mali para grupos islâmicos armados.
O capitão Sanogo foi obrigado a entregar o poder semanas mais tarde, mas manteve a sua influência em Bamako.