Havana, 21 dez (Prensa Latina) Apesar da reiterada expectativa ao redor de um augúrio sobre o fim do mundo, hoje os descendentes dos maias têm outros problemas mais mundanos, como dar de comer a seus filhos e buscar emprego.
Enquanto uma onda de turistas viaja às nações da rota Maia para conhecer essa cultura tão antiga, as famílias dessa procedência vivem de maneira difícil, talvez durante essa jornada ficam próximos a um tipo de fim dos tempos, mas por outras causas.
Várias vozes são críticas com referência a essa bagunça, como é o caso da líder indígena guatemalteca Rigoberta Menchú, que não vê de maneira positiva tanta baboseira frente ao esquecimento e a marginalização na qual vivem os descendentes diretos desses sábios de outros tempos.
Ela, como alguns pesquisadores da cultura meso-americana, está contra o fato da celebração do 13 Baktun do calendário maia (fim de uma etapa e início de outra) ter sido tão promovida de maneira que desvirtua o essencial do ser humano, seu espírito.
Este fenômeno social vai além, porque se trata do solstício de inverno, que implica comemorações em muitas culturas e partes do mundo, como no monte Rtanj, da Sérvia, onde inclusive alguns fanáticos oferecem refúgio perante o cataclismo.
Em forma de pirâmide de mil 565 metros de altura, as lendas e magia rodeiam essa montanha, a 200 quilômetros de Belgrado, lugar em muitos casos escolhido como Base OVNI, cujos dois hotéis estão lotados devido ao acontecimento.
Outras vozes vêem o lado bom da celebração, pois intelectuais maias guatemaltecos consideraram que o Oxlajuj baktun, ou mudança de ciclo em uma longa conta de cinco mil 200 anos de seu calendário, é ocasião para reivindicar a cultura desse povo.
Retomar a identidade, aprofundar em seu exercício com pleno direito é a principal contribuição. Estatísticas oficiais destacam que 42% dos 14,7 milhões de guatemaltecos são indigentes de origem maia.
Os maias na Guatemala, por exemplo, estão divididos em 22 comunidades linguísticas ou etnias com destaque para a Kíché, a mais numerosa com 28%; seguida da q’eqchi, com 19,3%.
Para o politólogo Ivaro Pop, vice-presidente do Foro Permanente das Nações Unidas para Questões Indígenas, a comemoração constitui um símbolo e prova irrefutável da necessidade de reivindicação e posicionamento da identidade coletiva dos maias.
Na perspectiva do turismo e da cultura, o Monumento 6 de Tortuguero em Mérida, México, reúne boa parte dos viajantes interessados na ocasião. É uma lápide de três peças retangulares em forma de T que constitui um dos documentos maias que atrai muitos.
O fragmento da inscrição encontrada em 1958 nesse sítio arqueológico do estado de Tabasco, sudeste mexicano, narra precisamente os principais acontecimentos de uma época de poder entre 644 e 670 d.c.
Ali o arqueólogo José Luis Romero, do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH), considera que as interpretações de fim do mundo são tergiversações do que realmente está plasmado nessa pedra.
Os maias dividiam seu calendário em ciclos, em períodos de 20 anos ou de 400 anos; este formato de baktunes, katunes, tunes, winales e kines é o desenho de um calendário que se chama de conta longa, que não termina no baktun 13, mas reinicia, segundo muitos especialistas.
No entanto, enquanto uns 200 mil turistas comemoram esse Baktun 13 na Guatemala, e outros tantos viajantes no resto da rota Maia, os descendentes estão preocupados em alimentar seus filhos, na Guatemala e no resto dos países desse trajeto: México, Honduras, Belize e El Salvador.