Leia a matéria de Baby Siqueira Abrão* Correspondente no Oriente Médio do Brasil de Fato
O jovem israelense foi para a prisão. Em solidariedade a Gaza
Leia o depoimento de Natan:
Comecei a pensar em não me alistar no exército durante a Operação Cast Lead [ofensiva militar de Israel a Gaza que matou quase 1,5 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças, e deixou centenas de milhares de feridos, além de mais de 50 prédios destruídos, entre 2008-2009], em 2008. A onda de militarismo agressivo que tomou conta do país na época, as expressões de ódio mútuo e a conversa vazia sobre esmagar o terror** e criar um efeito de dissuasão foram os motivos principais da minha decisão.
Hoje, depois de quatro anos cheios de terror**, sem um processo político [em relação a negociações de paz] e sem calma em Gaza e Sderot [cidade no sul de Israel onde as brigadas de Gaza atiram os foguetes Qassan de fabricação caseira], está claro que o governo de [Benjamin] Netanyhau, como o de seu antecessor [Ehud] Olmert, não está interessado em encontrar uma solução para a situação, mas sim em preservá-la. Do ponto de vista deles, não há nada errado em iniciar uma “Cast Lead 2” a cada três ou quatro anos (e depois a cada 3, 4, 5 e 6 anos): vamos falar em dissuasão, vamos matar alguns terroristas**, civis dos dois lados serão mortos e prepararemos terreno para uma nova geração cheia de ódio, de ambos os lados.
Como representantes do povo, os membros do gabinete [do governo] não têm o dever de apresentar sua visão para o futuro do país e podem continuar com esse ciclo sangrento, sem término à vista. Mas nós, como cidadãos e seres humanos, temos o dever moral de recusar participação nesse jogo cínico. Por isso decidi me recusar a entrar para o Exército de Israel no dia de minha convocação, 19 de novembro de 2012.
Natan não é o único a recusar-se ao alistamento no exército israelense, ou a sair dele por rejeição aos crimes praticados contra os palestinos. A organização Breaking the Silence reúne pessoas que, por objeção de consciência, abandonaram as forças armadas sionistas.
No portal da entidade (http://www.breakingthesilence.org.il/) podem-se assistir a vídeos e ler documentos em que ex-soldados e ex-oficiais contam os horrores praticados pelo exército de Israel contra a população desarmada da Palestina.
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* Com informações de Adam Keller, da organização pacifista israelense Gush Shalom.
** Natan, assim como toda a população israelense, fala em “terror” e em “terroristas” em função da propaganda dos sucessivos governos israelenses, que usam esses termos para se referir às brigadas de Gaza. Trata-se de mais uma mentira dos sionistas que governam Israel, massivamente divulgada entre os israelenses. A legislação internacional e resoluções da ONU são muito claras em garantir a povos sob ocupação, como os palestinos, o direito à luta armada como defesa de ataques e opressão exercidos pela potência ocupante (no caso, Israel). Portanto, as brigadas de Gaza não são terroristas. Fazem, isso sim, resistência armada, e evitam alvos civis (os foguetes Qassan são atirados, em geral, em locais inabitados). Isso não é terrorismo. Trata-se de autodefesa, ação legal e legítima, assegurada pelo direito internacional.