A preocupação do momento, na área educacional, é orientar os jovens para o uso das novas tecnologias da informação e comunicação, as famosas TICs. Preocupa-se com as redes sociais, exposição da imagem na internet [bullying, pedofilia virtual, pornografia gratuita], plágio [pela facilidade do CTRL+C – CTRL+V], excesso de informação, falta de fontes confiáveis, etc. Preocupa-se muito com a ferramenta e esquece-se daquela pecinha que mexe, fala e pensa, logo à frente do teclado.

Pois bem, reconhecendo que existe um “ser vivo” neste processo começamos a entender que não é a Internet que é má, são as pessoas que a utilizam que fazem dela uma péssima ideia, por muitas vezes, diante de nossos conceitos de certo e errado, confiável ou não, ética, moral e boa conduta.

Abordei essas questões porque o ponto onde quero chegar é na Educação para a Paz. Já ouviu falar? A Educação para a Paz busca desenvolver pessoas, potencializar relações com o meio, fomentar diálogo e espírito crítico. Eu acredito nesta ideia porque ela sugere a formação do ser humano para o convívio em sociedade (seja virtual ou real), sem precisar rogar praga na tal da Internet que nos ajuda muito e favorece muitas das nossas atividades diárias, e pode sim ser um ambiente para fazer amizades legais, encontrar pessoas boas e manter relações agradáveis.

Por trabalhar com mídia em sala de aula (como coordenadora de Programa Jornal e Educação estimulo a leitura de notícias alegres e tristes durante o horário escolar) percebo a necessidade de uma leitura contextualizada das “pessoas”, não apenas dos processos.

A facilidade que os jovens têm em formar suas redes sociais deve ser considerada. Eles se relacionam com todos e tudo dentro e fora do mundo virtual, sendo que esses mundos se interagem em determinados momentos. Uma notícia sobre alguma violência vai estar nos jornais de uma forma, na Internet será apresentada de outra maneira, na televisão será narrada a partir de uma nova versão. O problema é que, às vezes, esquecemos que esta mesma notícia faz parte da vida real do jovem, está em sua comunidade. O problema maior é que este jovem está lendo a mesma notícia em todas as versões que ele tem acesso, tirando suas próprias conclusões, mas nem sempre o professor está preparado para lidar com isso, para orientar o jovem a não praticar a violência que está na notícia. Neste momento, entender a formação social deste aluno que está em sua sala de aula talvez seja mais importante do que preocupar-se se ele sabe ou não utilizar tecnologia.

Por que não tentamos Educar para a Mídia considerando a Paz? O que é Paz? Não é pomba branca ou orar diariamente. Paz é viver em sociedade respeitando o outro, é aceitar as diferenças, é prezar pela não violência física ou de palavras porque Paz é dialogar, ouvir como se é ouvido. Paz na escola é aproximar-se das famílias (sei que nem sempre é fácil) e, principalmente, dos alunos e da comunidade, para conseguir uma formação cidadã. Quando o jovem entende quem ele é, enquanto cidadão, mesmo diante da tecnologia ele reconhece que é responsável pelos seus atos da mesma forma que é “ao vivo”.

Existe o “Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e Não Violência” que foi esboçado por um grupo de laureados do prêmio Nobel da Paz. Este manifesto propõe que cumpram seis pontos: 1. Respeitar a vida, 2. Rejeitar a violência, 3. Ser generoso, 4. Ouvir para compreender, 5. Preservar o planeta e 6. Redescobrir a solidariedade. A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o período de 2001 a 2010 a “Década Internacional da Cultura de Paz e Não-Violência para as Crianças do Mundo”. Não é interessante pensar que uma sociedade seria até mesmo mais sustentável, se a Educação para a Paz fosse efetivada como disciplina curricular?

Fica aí a opção. Vamos tentar Educar para a Paz utilizando a mídia como recurso, quem sabe dá certo.

Por Talita Moretto