Natural da Líbia, Omar vive desde 1999 na Holanda, para onde veio como refugiado político. Nestes últimos dias, ele tem falado continuamente com seus familiares e amigos na Líbia – ao menos quando as conexões permitem. A internet está no momento cortada e os telefones também não funcionam em grande parte do país.
**Libertação**
As palavras que Elkeddi usa para o que acontece neste momento em seu país são *“revolução”* e *“libertação”*. E alegria, pelo menos em algumas regiões.
*“A população da Líbia está muito feliz, as pessoas nas ruas expressam sua alegria. Depois de 42 anos elas estão livres, se livraram do ditador. Mas não foi fácil. Muitos morreram e muitos ficaram feridos.”*
O contraste com a situação de uma semana atrás é enorme. *“A Líbia era uma ditadura totalitária sob o regime de Muamar Kadhafi. As pessoas não ousavam dizer nada. As únicas demonstrações eram a favor do regime. Agora o medo continua apenas na capital, Trípoli. O resto do país está nas mãos do povo”*, diz Elkeddi.
Na noite de segunda-feira, Kadhafi apareceu rapidamente na televisão líbia declarando que estava em Trípoli e que não havia fugido para a Venezuela. Não está claro onde ele se encontra, mas aparentemente ele não quer entregar o poder. A situação ainda é muito tensa em várias partes do país. Mesmo em Benghazi, segunda maior cidade da Líbia, onde a revolta começou e que já está nas mãos de grupos anti-Kadhafi.
**Inspiração**
Os líbios foram inspirados pelos acontecimentos na Tunísia e no Egito, diz Elkeddi. Assim como nestes outros países, é uma revolução da juventude. A libertação da Líbia teve início com uma demonstração no dia 17 de fevereiro. A convocação foi divulgada via Facebook. Antes, demonstrações eram brutalmente reprimidas. O que mudou agora?
*“O exército e a polícia foram para o lado do povo”*, diz Elkeddi. Os militares teriam distribuído armas entre a população. Os únicos que ainda seguem Kadhafi, segundo o jornalista, são as brigadas de segurança, ao menos em parte. Mesmo membros destes grupos se afastaram.
**Construção**
Elkeddi ouviu dizer que membros dos temidos e odiados comitês revolucionários caíram nas mãos do povo. Não teriam sido mortos, mas estariam em prisão domiciliar.
*“Até agora, em toda a área libertada, não há notícias sobre invasões de propriedade ou saques, nem nenhuma mulher foi violentada. Isso mostra que as pessoas recuperaram a alma que haviam perdido durante a ditadura.”*
Elkeddi também acredita ser um bom sinal o fato de que mesmo na cidade natal do ditador, Sirte, os membros da tribo de Kadhafi não tenham sido molestados. E acha que não haverá guerra civil em seu país, pois segundo ele existe uma unidade nacional.
Omar Elkeddi nunca viu algo assim na Líbia e diz que gostaria de estar lá para participar e ajudar na construção da democracia. *“Há muito o que fazer na Líbia.”* Após 42 anos de ditadura, o país não tem Constituição ou partidos políticos, embora exista uma oposição ativa no exílio.