No primeiro turno declaramos que não apoiaríamos ninguém, apesar de vermos interessantes posturas no chamado campo da esquerda, inclusive, escanteadas do jogo “democrático” nessas eleições. Essa decisão, pautada na necessidade de dedicar energia na construção, crescimento e perfilamento ideológico do PHI no Brasil, é reavaliada após debate entre os membros do partido.
Sabemos que as duas candidaturas que se apresentam, no fundo representam o mesmo eixo programático do capitalismo, conservador das estruturas sociais que reproduzem todo tipo de violência na civilização humana, desde as mais sutis, como a falta de sentido na vida, até as mais grosseiras, como as guerras e o armamentismo.
No entanto, apesar desse transfundo de conservadorismo e comodismo, sabemos que a origem, construção histórica e concepção ideológica dos dois projetos que nos apresentam nesse segundo turno, têm raízes distintas, implicando em uma estratégia de governo que levam a posturas, num quadro geral, de maior ou menor violência, sobretudo sobre camadas populares e discriminadas, tanto na política nacional quanto na internacional.
É unanimidade no PH do Brasil a total insatisfação com a candidatura de José Serra que à frente de São Paulo mostrou-se com um perfil truculento, sem a prática do diálogo, que combate violentamente manifestações pacíficas de professores e estudantes, que trata a educação segundo regras mercantis, que criminaliza os movimentos sociais, que desaloja favelas para a especulação imobiliária ao em vez de desenvolver o lugar com os próprios moradores que ali já estão, demonstrando que prioriza os interesses das corporações e empresas sobre os interesses das pessoas, e que por isso, não é à toa ser acusado de privatista, e que tem como prática sucatear a coisa pública para depois entregá-la.
Além do mais, não queremos um governo onde as pessoas que o cercam tem a contumaz prática de falar fino com os ricos e grosso com os pobres, que tem no seu plano de governo a militarização das nossas fronteiras que não passa de um projeto de alinhamento aos EUA para servirmos ao ridículo papel de seu “cão de guarda” sendo um desestabilizador das lutas populares e da soberania dos povos latino-americanos, que segundo sua conveniência chamam de “ditaduras”. Não queremos um governo “queridinho” da mídia manipulatória que irradia hipnoticamente sua única visão de mundo anti-povo, degradando suas conquistas e maculando suas lutas, do campo e da cidade, sem terem o direito de explicitar sistematicamente as suas causas ao conjunto da nação, para pensarmos juntos em uma solução democrática e solidária.
Enfim, não queremos um governo que não se esforce em propiciar o desenvolvimento pleno de todos, sabendo que o desenvolvimento de uns termina no desenvolvimento de ninguém.
De outro lado, temos Dilma, continuadora do governo Lula, que no plano político, pode ser interpretado, como um avanço e um retrocesso, ao mesmo tempo. Foi um governo que produziu um salto na auto-estima do brasileiro, que ofereceu o mínimo de dignidade para aqueles que sempre ficaram historicamente excluídos, realizou um desenvolvimento das universidades públicas e melhorou o acesso ao ensino superior, deu exemplos de solidariedade e cooperativismo com ajuda econômica e na saúde aos países africanos, demonstrou princípios fraternos aos irmãos latino-americanos sendo capaz do diálogo que colabora na integração da nossa América Latina e soube neutralizar a ingerência do imperialismo liderado pelo EUA.
Esses avanços foram conquistas importantes que se resultaram concretas para a vida de milhões de pessoas, pelo menos podemos ter orgulho de dizer que milhões de brasileiros não passam mais fome, coisa que vergonhosamente essa mesma gente que agora quer voltar ao poder à frente do candidato Serra, insensivelmente, sempre fez vistas grossas. No entanto, esses avanços citados foram feitos em uma base falsa, que além de impedir que vá resolutamente e efetivamente até o fim da desigualdade de oportunidade, paradoxalmente, pode proporcionar sua própria queda e consequente retrocesso.
A forma em que essas eleições tomaram demonstram muito bem essa realidade, onde assistimos uma campanha eleitoral alienante e de baixíssima qualidade. As táticas de dominação do povo através da manipulação da mídia pelo oligopólio de algumas famílias, do sensacionalismo, do falso-moralismo atrelado a questões pessoais e secundárias e da retórica demagógica, indica claramente a farsa da nossa democracia, e é nessa base falsa que os candidatos pretendem governar, distante do povo que deveria sustentar qualquer governo. O resultado disso não poderia, e não pode ser outro a não ser o da corrupção, da enganação e da traição, que estamos, e que vamos continuar presenciando durante os próximos 4 anos, independente de quem ganhe.
Para um partido como o PSDB, que se formou dentro de uma visão elitista que pensa o ser-humano como um simples animal racional, partindo de um princípio biologizante que aceita a lei do mais forte e sua hierarquização como algo natural, isso não é problema, mas para um partido com o histórico que se origina das lutas populares, a formação de uma cúpula que se distancia da sua base é um erro execrável que compromete o projeto de qualquer nação que deseje um povo livre, forte e soberano.
Por isso, o nosso apoio nessas eleições a candidata Dilma não poderia ser de outro jeito, a não ser, CRÍTICO.
Não é uma crítica que cabe somente a este ou àquele partido ou programa, mas uma reflexão sobre a nossa sociedade como um todo.
Perguntamos: como será possível desenvolver a consciência do povo de um país, transformar seus cidadãos em seres plenos, livres e felizes, criando relações de paz e não-violência, nos príncipios da Democracia Real, se este mesmo povo não participa da sua própria liberação? Se este povo fica imobilizado esperando que a solução caia de algum líder carismático, da habilidade de um tecnocrata, da inteligência de algum estudioso ou de algum programa partidário?
Nenhum partido político, seja de esquerda e muito menos de direita, poderá libertar um país da opressão que a violência pessoal, institucional e social o assola, se não for feito a partir da sua própria base de sustentação onde concretamente tudo acontece. É somente as pessoas organizadas nos seus locais de trabalho e nas suas comunidades, que estão diretamente afetadas pelos conflitos que lhe atingem que podem dar legitimidade a um governo forte, capaz de romper com o sistema de violência, que hoje é reproduzido socialmente pelas regras e valores do capitalismo.
Todo o sistema político mundial está armado para ser subordinado aos interesses econômicos de reprodução insana e constante de capital, que se concentra cada vez mais em um grupinho mundial, impedindo que as reais necessidades e aspirações dos povos, das nações e de cada ser humano, se concretizem e se despertem, porque sem o poder e a propriedade de decidir sobre os recursos materiais produzido socialmente pelo conjunto dos trabalhadores, nos vemos induzidos a uma auto-escravidão, obrigados a nos vendermos nesse grande leilão de gente chamado mercado de trabalho. Diante disso, como será possível mudar o país se esses grandes partidos entram na disputa sustentado por bancos, especuladores financeiros e grandes empresários preocupados apenas com o lucro, ao em vez de estarem sustentados nas pessoas que formam a base da sociedade? A mesma situação degradante que cada cidadão vive na sua particularidade, vendendo a si próprio, os partidos e os ditos políticos profissionais, o vivem da mesma maneira.
Dessa maneira, o PH, alerta ao povo brasileiro.
Apesar da eleição de Dilma Rousseff à presidência da república do Brasil ser um “sinal” que devemos dar à elite mais discriminatória, preconceituosa, racista e covarde, não podemos fazer disso um reforço para a condição de povo “incapacitado”, “vitmizado” e “vendido” que sempre precisará de um “Pai dos pobres” para cuidar de si, de um “herói” para fazer justiça, ou de uma situação “ideal” de um futuro incerto que o impeça de agir agora.
Dar esse sinal é importante para que mostremos que o povo brasileiro está aprendendo a detectar os seus reais opressores “ocultos”. Mas não podemos ficar calado diante das posturas extremamente equivocadas do PT, que podem ter consequências gravíssimas e inesperadas nesses tempos onde o capitalismo mostra estar na sua fase terminal. Sua última crise está longe de terminar, como podemos ver, por exemplo, através desse último ataque aos trabalhadores na França. E a escolha do PT em governar dentro dos seus princípios, sem a descentralização do poder político substituindo a democracia representativa pela democracia direta, sem a garantia de uma saúde e educação pública de qualidade para todos que desfaça qualquer privilégio de classe, sem a participação dos trabalhadores nos processos decisórios das empresas obrigando o capital a se diversificar e reenvistir em novas fontes de trabalho e sem o controle estatal da banca para que esta execute seus serviços sem a finalidade lucrativa podendo emprestar sem juros, fará com que o povo continue na desvantagem e ignorante, com um sentimento difuso, mas permanente de fracasso e ressentimento, e que cada vez mais endurecido, sobretudo diante de algum “imprevisto” ou grande decepção, pode facilmente sucumbir na total irracionalidade e cair nas mãos do lobo fascista que encanta com seu discurso fácil de morte e destruição.
Para que possamos realizar tão monumental intento é urgente e necessário uma retomada resolutiva de uma perspectiva REVOLUCIONÁRIA, que atrelada sem reservas à metodologia da NÃO-VIOLÊNCIA ATIVA será a esperança para o fim da Pré-história e para a entrada triunfal da humanidade nos tempos da História.
Portanto, votar 13 no domingo, dia 31, é importante para que os ventos continuem razoavelmente favorável, mas não instruímos ninguém a esperar nada desse governo. Somente com trabalho, luta e mobilização coletiva debaixo de princípios altamente democráticos, igualitários e libertários é que poderemos acabar de vez com a opressão do Capital e do Estado.
Conclamamos todos a somarem-se conosco e a participarem da construção do Partido Humanista Internacional-Brasil, para sermos a opção que queremos e merecemos para o nosso país e o mundo, de hoje e para as gerações futuras.