*por Luisa Fernanda López*
Os esforços da Bolívia para conseguir a despenalização do consumo tradicional da folha de coca perecem surtir efeito na comunidade internacional.
O chamado do presidente boliviano, Evo Morales, no mês de março, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Entorpecentes, para que se despenalizasse a mastigação da folha de coca, parece ter surtido efeito. Há poucos dias, os 154 países membros do Conselho Econômico e Social da ONU decidiram por consenso geral iniciar o processo de consultas sobre a proposta boliviana de despenalizar ‘el akullico’, a mastigação da folha de coca.
Para Angélica Navarro, embaixadora da Bolívia nas Nações Unidas, esta é uma consequência lógica dos atuais desenvolvimentos jurídicos internacionais sobre povos indígenas, que fazem com que especificidades culturais, hoje em dia, sejam mais reconhecidas. Portanto, Navarro considera natural que uma convenção firmada em 1961, sem a consulta dos povos indígenas, seja modificada de acordo com o direito internacional.
**Os mitos da coca**
Para a embaixadora boliviana, a grande maioria dos preconceitos e questionamentos em torno do consumo da folha de coca provêm da falta de conhecimento. “Apenas o fato de que em inglês não exista uma diferenciação entre a folha de coca e o produto entorpecente – a cocaína -, gera, por si só, confusões. Ambos se definem como ‘coca’, algo que não se dá no idioma espanhol”, explica a diplomata.
Em sua publicação ‘Los mitos de la coca’, o Instituto Transnacional de Amsterdã assinala que “nos polêmicos debates sobre esta planta expressam-se visões e opiniões radicalmente contrárias, e quem não está familiarizado com o tema se perde com facilidade no labirinto de aparentes contradições. Para alguns, a folha de coca causa tanta dependência como seu derivado mais conhecido, a cocaína; outros afirmam que pode curar metade das enfermidades dos tempos modernos. Para alguns, o cultivo de coca é a principal causa de degradação ambiental de certas regiões; outros afirmam que a coca ajuda a proteger o solo e impede a erosão”.
Se depois destes 18 meses não se chegar a um total consenso, a Assembleia Geral do Conselho Econômico e Social da ONU convocará uma conferência internacional para tratar do tema.