A Prefeitura de São Paulo foi a última adesão conseguida pela missão à América do Sul da equipe da campanha Vision 2020 que propõe a eliminação das armas nucleares. Assessores do prefeito Gilberto Kassab assinaram na última sexta-feira, 27 de fevereiro, o apoio ao Protocolo Hiroshima-Nagasaki, que é o documento difundido pela campanha, organizada pela rede Prefeitos pela Paz, uma entidade que conta com a participação de cerca de 2700 prefeitos do mundo inteiro.
O diretor internacional da campanha, Pol D´Huyvetter, percorreu diversas cidades da América do Sul em uma visita de cerca de um mês de duração. Com a ajuda de uma equipe de voluntários, ele começou a missão no Fórum Social Mundial, realizado no final de janeiro em Belém do Pará. Depois visitou diversas capitais, como Montevideu, Santiago, Buenos Aires, Rio de Janeiro e São Paulo. Nestas cidades, o diretor se reuniu com representantes da Marcha Mundial pela Paz e Não Violência para divulgar a proposta da campanha e propor ações conjuntas.
No Uruguai, Pol D´Huyvetter confirmou a adesão da prefeitura, que além de apoiar a campanha, se comprometeu a fazer contato com outros prefeitos do Mercosul. Em Santiago e Buenos Aires, os prefeitos foram bastante receptivos e sinalizaram que devem aderir depois de analisarem a proposta.
A última parada ocorreu em São Paulo, onde foi conseguida a principal adesão regional à campanha. “São Paulo é uma cidade muito importante, a maior da América do Sul. A adesão do prefeito Kassab vai incentivar que outros prefeitos da região também apóiem a campanha”, diz.
Leia entrevista exclusiva para Pressenza:
Pressenza – Qual o principal motivo de sua visita aos países da América Latina?
Pol D´Huyvetter – É a primeira vez que visitamos a região para confirmar as primeiras adesões para a rede de Prefeitos pela Paz. E a América Latina é uma região muito importante pois é a primeira zona livre de armas nucleares, o que tem a ver com a campanha que desenvolvemos.
Pressenza – Qual é o objetivo da campanha que os Prefeitos pela Paz estão realizando na questão das armas nucleares?
PH – Os Prefeitos pela Paz defendem um mundo sem armas nucleares. Acreditamos que isso é possível, e precisamos de decisões políticas ara alcançar esse objetivo. Por isso, propomos que os governos apóiem o Protocolo Hiroshima-Nagasaki. É uma proposta similar ao Protocolo de Kyoto, mas que tem o foco no desarme nuclear total até 2020. A idéia é que os prefeitos que possam apoiar o protocolo, pois as cidades que eles governam são os alvos das armas nucleares.
Pressenza – Como analisa a necessidade urgente do desarme nuclear? O perigo é maior que antes?
PH – Na década passada não houve avanço na questão desarme nuclear. Aliás, houve retrocesso. Enquanto alguns países continuarem detendo armas nucleares, outros que não possuem, vão querer também. É o caso do Irã. E agora outros países como Egito e a Arábia Saudita estão planejando deter armas nucleares. E até em países como Brasil e Venezuela há pessoas que defendem a bomba.
Pressenza – Qual a situação atual da ameaça nuclear no mundo hoje?
PH – Hoje existem 25 mil armas nucleares, que têm o poder meio milhão maior que a bomba de Hiroshima. Além disso, existe o problema do terror, do impacto psicológico sobre as pessoas. Isso não pode continuar. Precisamos trabalhar e pressionar aos que decidem para evitar novos desastres como os de Hiroshima e Nagasaki. Quando escutamos as histórias dos sobreviventes das bombas atômicas, a única conclusão é que temos que fazer o possível para não ocrrer novamente.
Pressenza – Quais foram as principais adesões conseguidas em sua visita?
PH – Em nossa visita a Belém, no Fórum Social Mundial, tivemos a adesão do Fórum de Autoridades Locais. Depois fomos para Montevideu, onde o prefeito assinou o protocolo. Aqui em São Paulo acabamos de confirmar a adesão do prefeito Gilberto Kassab. Sua equipe ficou de contatar os prefeitos de outras grandes cidades brasileiras como Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte.
Pressenza – Quais os planos dos Prefeitos pela Paz nos próximos meses para a campanha?
PH – O evento mais importante é a Conferência de revisão tratado de não–proliferação de armas nucleares, previsto para maio de 2010. Até lá pretendemos avançar com as adesões das prefeituras ao prototocolo. Agora temos cerca de 500 assinaturas de adesão e esperamos chegar a 1000 em maio do ano que vem.
Pressenza – Como os Prefeitos pela Paz estão analisando a proposta de uma Marcha Mundial pela Paz e pela Não Violência?
PH – Acredito que a Marcha Mundial é uma iniciativa muito importante em um momento mundial muito crítico. A organização Mundo sem Guerras, que promove a iniciativa, é muito dinâmica. Um mundo sem guerras é uma proposta muito importante. Depois de abolirmos todas as armas nucleares, temos que eliminar as guerras, que não são necessárias. Temos outras maneiras para resolver os conflitos. Esse também é o objetivo dos Prefeitos pela Paz. Devemos confirmar nossa adesão oficial à marcha Mundial em mais uma semana.