Ao tomar posse, o Presidente Obama fica com uma longa lista de grandes desafios, da recuperação econômica ao sistema de saúde, o Iraque, o Afeganistão, e o aquecimento global. O desarmamento nuclear está longe de ser uma prioridade. Mas devia ser a primeira.
Uma noite, no ano passado, deparei-me com um pequeno vídeo feito pela Nuclear Age Peace Foundation. Como forma de demonstrar o impacto de uma detonação nuclear, o vídeo mostrava um mapa da Times Square, em Nova York. Um ponto negro marcava um potencial “ground zero” que por acaso fica apenas a uns quarteirões do meu apartamento. À medida que eu assimilava as implicações de algo assim, lembrei que meus filhos dormiam no quarto ao lado – com seus corpos desprotegidos – e, nesse momento, minha apreciação da realidade das armas nucleares tornou-se menos abstrata, mais de carne e osso.
Não queremos pensar nisso. Pensar num ataque nuclear, na devastação e no sofrimento incrível que provocaria, é profundamente perturbador. Sem falar da corrida armamentista. Dado o número atual de ogivas, o potencial de destruição da vida na Terra (podem destruí-la várias vezes) é real. Isto é compreensivelmente difícil e desagradável de imaginar – quase impensável.
Contudo, sem nos tornarmos histéricos, é essencial tomarmos consciência desta grave ameaça à humanidade e assumirmos a tarefa de trabalhar pela eliminação das armas nucleares com toda a urgência. Embora seja difícil imaginar a utilização de uma arma nuclear, a possibilidade é demasiada real. A violência está a ponto de explodir no Oriente Médio. Há grandes tensões entre a Índia e o Paquistão (ambas potências nucleares). Milhares de armas estão prontas para ser lançadas em estado de alerta, tornando real a possibilidade de uma guerra nuclear puramente acidental. E ainda há a possibilidade assustadora das “maletas-bomba”.
A necessidade de superar a ameaça de destruição nuclear é mais urgente do que as alterações climáticas (que também são importantes) e deve ser a primeira prioridade das potências nucleares. Os EUA podem e devem jogar um papel crucial de liderança. A equipe de Obama pode iniciar um arrojado processo internacional de desarmamento progressivo, com o objetivo claro de eliminar todas as armas nucleares o mais depressa possível. Neste contexto, será possível construir uma cooperação internacional para o controle da proliferação de materiais nucleares e de sua “eliminação”.
Enquanto os governos devem fazer a sua parte, as iniciativas de base como a Marcha Mundial pela Paz e pela Não-Violência são extremamente importantes para a tomada de consciência. Esta consciência entre todos os povos do mundo pode ser decisiva para a priorização do desarmamento, da mesma forma que aconteceu com o aquecimento global.
Quando imaginamos um ataque nuclear, se é que o conseguimos imaginar por completo, tendemos a pensar que ele acontecerá “em outro lugar”. Nessa noite, no ano passado, percebi que isto é uma ilusão. Pode acontecer aqui no meu bairro. Pode acontecer em qualquer lado. E da mesma forma que eu não quero que os meus filhos sofram, também não quero que os filhos dos outros sofram. Ao enfrentarmos o impensável perigo nuclear, podemos dar aos nossos filhos e netos um mundo sem as monstruosas armas nucleares e talvez preparar o caminho para a redução das armas convencionais e do militarismo.